A minha mãe voltou a levar-me aos Covões, logo na segunda-feira. Quando lá cheguei, encontrei a minha amiguinha Yara, colega de operação, de quem já me tinha lembrado antes: “Será que ela também tem andado por aqui, com a sua mãe?” Quando a vi, percebi que sim. E lá estava ela, andando “cá e lá”, sorrindo. Oh, tão linda que ela é!... Também retribuí o sorriso, claro está. A ela e a todos quantos lá estavam, como de costume.
Depois, a minha mãe levou-me à sala das Danielas e lá deixou-me “sozinho”. Chorei, pois claro! Depois de um fim-de-semana em exclusivo com a minha mãe, não achei justo ficar longe dela. Enfim, mas depois passou-me! Esqueci o assunto e concentrei-me nos jogos que me deram para a mão. O mesmo não se pode dizer da Yara que chorou, chorou e chorou quando a levaram para a sala. Oh Yara, como eu te entendo! Ficar longe da mãe é uma coisa assustadora, mas o que vale é que elas voltam sempre. Confia em mim e não te preocupes, “minha” loirinha!
Já na minha sala, ando a aprender a concentrar-me num brinquedo de cada vez. As Danielas não me deixam brincar com outro sem primeiro terminar o que comecei. E, ainda por cima, foram dizer à minha mãe para fazer o mesmo! Estou tramado, pois já não posso brincar com tudo ao mesmo tempo.
Pelo que elas me dizem, isso será muito importante para as minhas próximas brincadeiras… Diz a minha mãe, para me convencer, que se eu fizer isto tudo direitinho, até poderei ir mais cedo para casa! Iupi, só por isso vou fazer um esforço!
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Esta semana tenho brincado imenso na Terapia, sentado naquela “cadeira da papa”. É uma cadeira de refeições mas tenho visto tudo menos comida! Se ao menos me deixassem brincar no chão! Oh, vida de criança…
Fora isso, têm me dado umas coisinhas engraçadas para brincar… Jogos de encaixe, legos, bolas de sabão… Até já me puseram um espelho à frente, para fazer palhaçadas. Palhaçadas e não só! A Daniela olha para ele e mexe muito com a boca… diz coisas, mas não entendo nada daquilo.
Depois, põem-me uns bichos à frente, mexem a boca (e fazem questão que eu olhe bem para a boca!) e dizem umas coisas como “mé-mé”, “quá-quá”, “muuu”… “Mu”? Mas que raio de coisa é essa de “mu”? Ainda não percebi patavina daquela conversa de bichos…
Ah, e estão a ver nas fotografias aquele "gancho" de pôr na porta, azul com um avião verde, todo janota? Foi a Daniela (estagiária) quem me deu! É lindo, não é? Mas não é todo para mim. Na verdade, o avião é, mas o folheto é para a minha mãe!
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Por casa, (pela pensão, salvo seja!), a minha mãe vai repetindo as brincadeiras… Para já, quando quero uma coisa, só me dá quando eu faço um gesto com a mão (gesto de pedir). Já não posso resmungar ou chorar quando quero uma coisa.
Não posso brincar com tudo ao mesmo tempo, não posso resmungar para pedir uma coisa… Fogo, parece que vim para a tropa!
Fora isso, ela anda à minha volta com umas brincadeiras estranhas:
- Agarra num “nenuco”, aperta-o junto ao peito e faz “óóóó”… (Para que será aquilo? - pergunto-me eu. O “nenuco” ainda morre asfixiado com tanto aperto, coitado!)
- Agarra no telefone, põe ao pé do ouvido e diz “alô”. (Mais uma coisa sem explicação…)
- Faz um bico com os lábios, põe o indicador na boca e faz “shhhh”. (Cada vez pior…)
- Quando temos uma porta à nossa frente, fecha a mão como se fosse bater em alguém e bate na porta! Ao mesmo tempo diz “truz, truz”. (Oh, mãe. Estavas à espera que a porta falasse? Não sabes que as portas não falam?! Dahh…)
- Na bendita hora da refeição, quando eu como (ou ela) alguma coisa, faz “mnhã, mnhã”. (Ah, isto eu percebo perfeitamente. Quando a comidinha é boa, não há outra coisa que se diga senão isso mesmo!)
Por agora não tenho mais tempo para conversas, pois tenho que ir brincar com o meu pai (que chegou de surpresa!!) e com a minha tia Margarida que veio de Faro, e que cá vai ficar por uma semana!