Já me sento sozinho, não preciso de almofadas!
Já não bebo só leitinho da mãe (não é que não gostasse!!). Os meus pais começaram por me dar papinha e depois veio a fruta e o puré de legumes. Dão-me tudo de colher... e lá vou provando o que vem ao prato! Dizem que sou "de bom dente" e ficam contentes com isso!
Como ainda não tinham tirado do juízo aquele assunto de ouvir, continuaram a pôr-me à prova. Caramba, isto de ser filho de professores vai ser dose, estou mesmo a ver!!!
Tentavam assustar-me não sei com o quê, chamavam por mim quando estava de costas e esperavam que eu olhasse para trás. E não é que às vezes eu assustava-me mesmo e virava a cabeça na direcção deles? Ficavam tão contentes e sorriam muito para mim!
Ah, e eu, como queria retribuir aqueles sorrisos todos que me eram dados, também aprendi a sorrir, sorrir e muito! Ui... e então é que foi ver a família toda à minha volta, a sorrir para mim e eu a sorrir para eles! Que brincadeira engraçada, esta!
Bem, e no meio disto tudo, continuavam a falar de mim como sendo: muito activo ("não pára quieto"), perspicaz, atento a tudo e muito falador (da,da... be, be... ma, mã... á, gua..) - era assim que todos falavam de mim, na esperança de que isso significasse que aquela coisa de ouvir estivesse no meio disso tudo. E tinham quase a certeza de que ouvia mesmo...
O que é certo é que parece que não e já vos digo porquê.
Quando voltei ao Hospital, em jejum (vejam lá se uma criança merece!!!), meteram-me um xarope amargo na boca (ainda por cima!!!) e esperaram que eu adormecesse. Que remédio tive eu senão dormir, pois aquilo deu-me uma moleza tão grande que nem conseguia mexer as pernas sem parar como tanto gosto.
Contaram-me, depois, que me puseram uns quantos fios colados à cabeça, mais uns fones nos ouvidos, e ficaram à espera que o computador dissesse que eu ouvia.
Mas ele não disse... e a senhora simpática mais uma vez disse que eu poderia ter um rolhão de cerúmen nos ouvidos.
Os meus pais torceram o nariz... desiludidos com aquele resultado.
Enfim, mas lá voltámos todos para casa com a esperança que eu tivesse cera nos ouvidos que desse para fazer uma vela!